Saturday, October 1, 2011

Luisa Rocha nos EUA

Luisa Rocha
Já são disponíveis várias informações sobre a digressão (já em progresso) da fadista Luisa Rocha aos EUA, mas aqui quero apresentar umas palavras fornecidas pela fadista sobre a produção em que participa, que se chama "Fado Moves". Como foi escrito recentemente no blogue Fado-today e no journal cultural HardMúsica, este projecto pretende juntar duas formas de arte--o fado e a dança--para contar as histórias do  novo disco da Luisa Rocha, "Uma noite de amor".

Perguntei à Luisa Rocha: Como é que o conjunto seu preparou para este espectáculo? Depois deste visita, vai continuar com o projecto dentro de Portugal? E, afinal e para manter a continuidade, como é que o Michael ficou envolvido no projecto?


A Luisa Rocha respondeu assim:

"Este projecto exige de toda a equipe uma grande concentração. Muitas são as diferenças que se podem encontrar em cada um de nós: culturas, idioma, estilos musicais e até mesmo a formação dos bailarinos é bastante ecletica, do ballet ao Bboy, passando pelo Hip-Hop e Modern. Em comum temos a paixão pelas artes--uma afinidade necessária para realizar um bom trabalho."

"A preparação começou antes do primeiro encontro. Quando cheguei à América fiquei surpresa: todos os bailarinos haviam escutado e estudado muito sobre fado. E tal como eu, todos sabiam que este projecto nos trás muita responsabilidade. Tem que ser tratado com o máximo de seriedade pois é o género musical que representa grande parte da cultura Portuguesa, e candidato ainda este ano a património da humanidade."

"No primeiro encontro fiz questão de cantar para que todos sentissem a magia do fado tal como se faz nas típicas casas de Fado. Depois deste 1º contacto, foi feita uma escolha de reportório baseado no meu disco "Uma Noite De Amor". Ainda mesmo antes de lhes ser traduzido os respectivos poemas, foi curioso perceber que cada gesto dos bailarinos descrevia o que cada fado contava. Depois de lhes ser entregue a tradução, foi bastante interessante perceber que se lhes tivesse sido entregue antes, era exactamente o que tinham escolhido, por se identificarem com a historia que vão contar."

"A música ultrapassa a barreira das diferenças e neste momento já não é a Fadista e os bailarinos mas sim um grupo de amigos sensibilizados e motivados para fazer mover o Fado "Fado Moves".

"O Luso-Americano Michael Da Silva é o mentor do projecto. Penso que é seu objectivo levar o 'Fado Moves' pelo mundo. Confesso que me deixa muito feliz a ideia de ser Portugal o próximo destino."

Ofereço um sincero obrigado à Luisa Rocha por ter ampliado o nosso conhecimento deste projecto, que parece muito interessante e que está a gerir bastante interessa e curiosidade na zona da cidade da Nova Iorque.

Wednesday, June 1, 2011

Seis dias de fado: Lisboa 2011

Desta vez, o DM queria planear tudo antes de chegar a Lisboa. Mas como eu já lhe disse---assim não consegues certamente; o melhor é correres o risco de improvisar. Na primeira noite, a da chegada (6/Maio), fomos à Baiuca--lugar habitual--aonde ouvimos bom fado na companhia do nosso amigo, José Maria. Naquela noite, e de facto em todas as outras em que fomos aos fados, a voz dele não dava para cantar, pois ele estava com uma constipação qualquer. Notei que a Baiuca tinha perdido algo ao longo do tempo, mas está de volta, com boa música e bons cantores (senti a falta de algumas caras dos outros tempos). O que lhe falta ainda é a disciplina que tinha: o barulho era demasiado.

Rodrigo em actuação no GSA
Um amigo sugeriu-nos o Grupo Sportivo Adicense, aonde ia cantar o Rodrigo, e lá fomos. Quem conhece o lugar sabe que não tem pretenções quaisquer: é uma sala simples, sem grandes decorações. O evento foi organizado pela EGEAC, Museu do Fado, etc., e também foi filmado. Curiosamente, era como se não estivessem as máquinas da filmagem. O Rodrigo continua igual a si mesmo. A mim parece-me que o repertório está a escurecer um pouco (Recado do João Dias; Última Porta; etc.), ou terá sido sempre assim? Eis uns vídeos: É tão bom ser pequenino; Recado do João Dias; Duas mortalhas; Minha culpa.

No dia seguinte, veio o nosso amigo Luís de Coimbra para assistir ao fado. Durante o dia, vistamos com o José Lúcio Ribeiro de Almeida. O relatório desta visita merece uma entrada especial, então deixo-o para logo. 
José Lúcio Ribeiro de Almeida
Miguel Pedro a cantar na Tasca do Jaime
Depois fomos à Tasca do Jaime na Graça, aonde se mantinha tudo igual: a Laura continua a dirigir a casa como se fosse um barco e ela a capitã. O João Soeiro cantou lindamente, acompanhado pelo Paulo Silva (gp) e pelo Miguel Pedro (v). Também o Duarte Nunes, filho da Laura e do Jaime, tocou e cantou. Já com 14 anos tem um estilo muito próprio. A casa vale toda a atenção que recebeu até agora. É um espaço aberto a todos, com uma clientela fiel (e sabedora), e sem pretenções. Para quem quiser saber, o Jaime foi entrevistado para um filme sobre o dia-a-dia do fado, mas ele não sabia nada dos planos para o mesmo.

Durante um dos intervalos, falei brevemente com os primeiros dois músicos mencionados, pois queria saber aproximadamente quantos músicos tocavam a sério a guitarra portuguesa, e quantos tocavam a viola em Lisboa. Depois de muita conversa (e depois de as terem enumerado), chegaram a um número de 50 e 40, respectivamente.

José Manuel Rato no S. Miguel d'Alfama
À tarde, fomos ao São Miguel d'Alfama, principalmente para ouvir o Jaime Dias, que nós tínhamos encontrado por acaso em frente à mesma casa na noite anterior. Correu tudo muito bem. O Jaime estava em boa forma, e o José Mattoso também. A surpresa da noite foi o José Manuel Rato, que foi convidado para cantar pela proprietária da casa, Fátima Moura. Devido a localização, havia muitos turistas, como na Baiuca, que fica do lado oposto da mesma rua). Mas em contraste, o barulho estava controlado devido aos esforços do elenco. Tive o prazer de falar com o Jaime durante um intervalo sobre a amizade que partilhava com o Fernando Maurício. (Entretanto, recebi notícias de mais um filme, "O rei sem coroa", realizado por Diogo Varela Silva, que prentende contar a história deste grande fadista, tal como fez num o realizador quando contou a história da Celeste Rodrigues no filme "Fado Celeste").

À noite, assistimos ao fado no Sr. Fado, na Rua dos Remédios, casa dirigida por Duarte Santos (v) e pela mulher dele, Ana Marina (voz). É uma casa pequena, com mais ou menos 25 lugares. Sentámo-nos no canto ao lado da porta, e encontrámos o nosso amigo Fernando Moreira, entre outros. Decidimos voltar para a terúlia, que teria lugar na quarta-feira seguinte.

No dia seguinte, tínhamos combinado um encontro no Vossemecê com dois colegas que estavam em Lisboa para um congresso. Esta já é uma casa de referência, com os músicos Ze Manuel de Castro (gp) e Francisco do Carmo (v), e um elenco do Eurico Pavia, Conceição Ribeiro, e também o Ze Manuel de Castro a cantar. Estes três cantores cobrem três campos do fado: o "clássico", tipo Bairro Alto, com Eurico Pavia; o "castiço", tipo Alfama, da Conceição Ribeiro; e o "novo", tipo heterogéneo musicalmente falando, do Ze Manuel de Castro. Partimos depois do primeiro intervalo para Alfama, aonde encontrámos o José Maria, com quem fomos à Tasca do Chico. Lá não ficámos tanto tempo. Já era tarde e muita gente fumava lá dentro. Quanto ao fado, tocaram o Flávio Cardoso (gp) e o Tiago Silva (v), e cantaram a Natália Velez e a Adélia Azevedo. Alguém mencionou o "Um bar" no Estoril como um destino para o fado.

No dia seguinte, houve fado no Museu da Marinha, com a Raquel Tavares a cantar, e o Guilherme Banza (gp) e o Jorge Fernando (v) a tocar e cantar. Foi um espectáculo. É preciso agradecer não só aos artistas, mas também ao Michael da Silva, músico e organizador de eventos de fado nos EUA, que fez o contacto com o Jorge Fernando e facilitou a organização da noite.

Guilherme Banza, Jorge Fernando no Museu da Marinha

Raquel Tavares no Museu da Marinha
Inga Oliveira nos estúdios da Rádio Amália
Durante a tarde do último dia, o DM visitou a Rádio Amália, do que ele vai falar no outro site, o fado-today.blogspot.com. Ele chegou imediatamente depois da actuação da "Estrela da tarde" daquele dia, o que foi uma pena. Teve no entanto a sorte de falar com a Inga Oliveira, e de cumprimentar o director do canal, e também o Vergílio Pereira, que oito dias depois faleceria. Agradecemos o bem-vindo recebido pela equipa toda. 

À noite regressamos ao Sr. Fado na Rua dos Remédios em Alfama. Vou deixar o DM explicar os acontecimentos, que acabaram com a Ana Marina e o Artur Batalha a cantar até a madrugada.

Thursday, April 28, 2011

Entrevista com Tony Loretti

O fado vive através do trabalho de muitas pessoas, e muitas destas são esencialmente desconhecidas fora do país mas bem conhecidas dentro. Acho uma destas o Tony Loretti: organizador de espectáculos de fado—feitos para fins predominantamente de benficiência—e uma personagem muito ligada ao Bairro da Mouraria, o berço do fado.

Noutros tempos, o fado tinha lugar de honra na Mouraria, um dos bairros historicamente mais associados a este género música. Ainda há traços evidentes  desta rica tradição. Quem passa por detrás do Centro Comericial do Martim Moniz vê uma escultura erguida pela Câmara Municipal de Lisboa que fala desta tradição, e da Mouraria como sendo o "berço" do fado. Viveram lá muitos nomes associados ao fado, entre eles duas figuras preponderantes, cujas casas ficam frente-a-frente na Rua do Capelão: a Severa, fadista do século XIX; e o Fernando Maurício, do século XX.

A construção e a sociedade da Mouraria sofreram uma evolução durante séculos de existência, tal como Alfama e outros bairros históricos de Lisboa. Mas foi na década de 50 que a Mouraria foi alvo de um grande choque, que perturbou não só os aspectos físicos do bairro, mas também os espirituais, que provocou um impacto no fado. Esta 'renovação' do bairro, que implicou a demolição de muitos edifícios típicos e a deslocação de muitas pessoas, foi descrita recentemente num livro escrito em inglês entitulado “The Reconstruction of Lisbon” (“A Resonstrução de Lisboa”) escrito por Michael Colvin. Agora para quem visita o bairro é preciso procurar nos becos escondidos para descobrir onde o fado mora. Na mencionada Rua da Capelão, por exemplo, há uma pequena taberna, chama-se 'Da Severa', onde se encontram várias placas com fotos, nomes e imagens que sugerem o fado—mas é tudo escrito em código. Um dos mais emblemáticos códigos é o "GDM". Nas notícias, aparece quase sempre assim. Quem sabe, sabe; quem não sabe, tem de procurar. O GDM significa o "Grupo Desportivo da Mouraria", onde se situa a "Catedral do Fado", salão amplo onde cantava o Fernando Maurício e muitos outros, ao longo de muito tempo, num espaço dedicado ao fado e também à transmissão da força e da boa vontade do fado em relação às pessoas que mas precisam.

É certo que falar do fado na Mouraria implica falar do Fernando Maurício. Diz o Tony Loretti que o seu cantor mais memorável foi exactamente este rei do fado. “Porque alem de nascer na Mouraria, é um fadista que não se esquece, gente castiça. E toda a gente gosta de imitar o Maurício, mas nenhum consegue. É um estilo próprio, é um estilo que lá se ouve.” Quem assiste o fado típico em Lisboa verá (e ouvirá) que o Fernando Maurício continua a influenciar os cantores.

Foi neste espaço que o Tony Loretti organizou o seu primeiro espectáculo de fado, há aproximadamente dez anos. Organizou-o lá porque, segundo disse o Tony, "a Mouraria precisava." Os espectáculos mais típicos do Tony Loretti talvez possam ser caracterizadas como 'maratonas do fado'. Assisti a algumas destas em Lisboa. São espectáculos com a duração de quatro ou mais horas, com intervalos curtíssimos, e muitos fadistas. Nestas, cada fadista canta três ou quatro fados na sua vez, e depois vem o seguinte. A lista de fadistas pode incluir alguns 'de raça', como Ricardo Ribeiro, mas também alguns menos conhecidos, gente que canta fado mas não com fins lucrativos. O elenco surge à maneira portuguesa: espontâneamente, e nunca se sabe exatamente quem vai cantar. É certo que não são espectáculos feitos para turistas, pois há poucos intervalos: são espectáculos de convívio, de arte, e, por vezes, de beneficência.

O Tony Loretti já organizou alguns espectáculos para ajudar crianças e deficientes. Disse-me "Agora fiz um espectáculo para quatro crianças deficientes." O lucro do evento foi de 600 euros para cada criança, e uma cadeira de rodas. Acrescentou o Tony: "Não ganho nada aqui. Dei tudo a eles. Quem o organizou fui eu. Mas os meus amigos fizeram-no em minha homensagem, e com a ajuda de todos conseguimos." Com eventos desta escala, há sempre o medo de falha. As coisas podem não correr bem, e assim se isto acontecesse ficariam todos deprimidos--e potencialmente em risco financeiro.

Podemos notar que o Tony, tal como muitos outras pessoas dentro do fado, zangou-se por algum tempo com o bairro onde tinha feito tantos espectáculos. Mas, tal como nestes outros casos, está de regresso.  “Já me pediram para ir para lá. Voltei e tenho o bichinho.” diz o Tony.  “Na Mouraria faço um espectáculo por mês. Todos os meses faço espectáculo na Mouraria e temos sempre a sala cheia.”

--ZN

Friday, January 7, 2011

Thursday, January 6, 2011