Desta vez, o DM queria planear tudo antes de chegar a Lisboa. Mas como eu já lhe disse---assim não consegues certamente; o melhor é correres o risco de improvisar. Na primeira noite, a da chegada (6/Maio), fomos à Baiuca--lugar habitual--aonde ouvimos bom fado na companhia do nosso amigo, José Maria. Naquela noite, e de facto em todas as outras em que fomos aos fados, a voz dele não dava para cantar, pois ele estava com uma constipação qualquer. Notei que a Baiuca tinha perdido algo ao longo do tempo, mas está de volta, com boa música e bons cantores (senti a falta de algumas caras dos outros tempos). O que lhe falta ainda é a disciplina que tinha: o barulho era demasiado.
Rodrigo em actuação no GSA |
Um amigo sugeriu-nos o Grupo Sportivo Adicense, aonde ia cantar o Rodrigo, e lá fomos. Quem conhece o lugar sabe que não tem pretenções quaisquer: é uma sala simples, sem grandes decorações. O evento foi organizado pela EGEAC, Museu do Fado, etc., e também foi filmado. Curiosamente, era como se não estivessem as máquinas da filmagem. O Rodrigo continua igual a si mesmo. A mim parece-me que o repertório está a escurecer um pouco (Recado do João Dias; Última Porta; etc.), ou terá sido sempre assim? Eis uns vídeos: É tão bom ser pequenino; Recado do João Dias; Duas mortalhas; Minha culpa.
No dia seguinte, veio o nosso amigo Luís de Coimbra para assistir ao fado. Durante o dia, vistamos com o José Lúcio Ribeiro de Almeida. O relatório desta visita merece uma entrada especial, então deixo-o para logo.
José Lúcio Ribeiro de Almeida |
Miguel Pedro a cantar na Tasca do Jaime |
Depois fomos à Tasca do Jaime na Graça, aonde se mantinha tudo igual: a Laura continua a dirigir a casa como se fosse um barco e ela a capitã. O João Soeiro cantou lindamente, acompanhado pelo Paulo Silva (gp) e pelo Miguel Pedro (v). Também o Duarte Nunes, filho da Laura e do Jaime, tocou e cantou. Já com 14 anos tem um estilo muito próprio. A casa vale toda a atenção que recebeu até agora. É um espaço aberto a todos, com uma clientela fiel (e sabedora), e sem pretenções. Para quem quiser saber, o Jaime foi entrevistado para um filme sobre o dia-a-dia do fado, mas ele não sabia nada dos planos para o mesmo.
Durante um dos intervalos, falei brevemente com os primeiros dois músicos mencionados, pois queria saber aproximadamente quantos músicos tocavam a sério a guitarra portuguesa, e quantos tocavam a viola em Lisboa. Depois de muita conversa (e depois de as terem enumerado), chegaram a um número de 50 e 40, respectivamente.
José Manuel Rato no S. Miguel d'Alfama |
À tarde, fomos ao São Miguel d'Alfama, principalmente para ouvir o Jaime Dias, que nós tínhamos encontrado por acaso em frente à mesma casa na noite anterior. Correu tudo muito bem. O Jaime estava em boa forma, e o José Mattoso também. A surpresa da noite foi o José Manuel Rato, que foi convidado para cantar pela proprietária da casa, Fátima Moura. Devido a localização, havia muitos turistas, como na Baiuca, que fica do lado oposto da mesma rua). Mas em contraste, o barulho estava controlado devido aos esforços do elenco. Tive o prazer de falar com o Jaime durante um intervalo sobre a amizade que partilhava com o Fernando Maurício. (Entretanto, recebi notícias de mais um filme, "O rei sem coroa", realizado por Diogo Varela Silva, que prentende contar a história deste grande fadista, tal como fez num o realizador quando contou a história da Celeste Rodrigues no filme "Fado Celeste").
À noite, assistimos ao fado no Sr. Fado, na Rua dos Remédios, casa dirigida por Duarte Santos (v) e pela mulher dele, Ana Marina (voz). É uma casa pequena, com mais ou menos 25 lugares. Sentámo-nos no canto ao lado da porta, e encontrámos o nosso amigo Fernando Moreira, entre outros. Decidimos voltar para a terúlia, que teria lugar na quarta-feira seguinte.
No dia seguinte, tínhamos combinado um encontro no Vossemecê com dois colegas que estavam em Lisboa para um congresso. Esta já é uma casa de referência, com os músicos Ze Manuel de Castro (gp) e Francisco do Carmo (v), e um elenco do Eurico Pavia, Conceição Ribeiro, e também o Ze Manuel de Castro a cantar. Estes três cantores cobrem três campos do fado: o "clássico", tipo Bairro Alto, com Eurico Pavia; o "castiço", tipo Alfama, da Conceição Ribeiro; e o "novo", tipo heterogéneo musicalmente falando, do Ze Manuel de Castro. Partimos depois do primeiro intervalo para Alfama, aonde encontrámos o José Maria, com quem fomos à Tasca do Chico. Lá não ficámos tanto tempo. Já era tarde e muita gente fumava lá dentro. Quanto ao fado, tocaram o Flávio Cardoso (gp) e o Tiago Silva (v), e cantaram a Natália Velez e a Adélia Azevedo. Alguém mencionou o "Um bar" no Estoril como um destino para o fado.
Guilherme Banza, Jorge Fernando no Museu da Marinha |
Raquel Tavares no Museu da Marinha |
Durante a tarde do último dia, o DM visitou a Rádio Amália, do que ele vai falar no outro site, o fado-today.blogspot.com. Ele chegou imediatamente depois da actuação da "Estrela da tarde" daquele dia, o que foi uma pena. Teve no entanto a sorte de falar com a Inga Oliveira, e de cumprimentar o director do canal, e também o Vergílio Pereira, que oito dias depois faleceria. Agradecemos o bem-vindo recebido pela equipa toda.
À noite regressamos ao Sr. Fado na Rua dos Remédios em Alfama. Vou deixar o DM explicar os acontecimentos, que acabaram com a Ana Marina e o Artur Batalha a cantar até a madrugada.