Thursday, September 27, 2012

Manuela Cavaco em Elizabeth, NJ no 6-Out-12


A fadista Manuela Cavaco vai trazer o fado de Montijo, Portugal à cidade de Elizabeth no dia 6 de Outubro de 2012, às 18:30 na Salão Nobre ao lado da Igreja da Nossa Senhora de Fátima. O evento vai beneficiar a Fundação Amália USA, e contará com a participação de vários outros artistas da comunidade lusa em New Jersey, inclusive o jovem fadista Pedro Botas. Os músicos serão o José Silva (na guitarra portuguesa), o Viriato Ferreira (na viola de fado), e o Pedro Pimentel (na contra-baixo). A noite incluirá um tributo à fadista Cora d’Abreu, uma artista que figurou prominentemente no ambiente fadista da comunidade.

A fadista Manuela Cavaco canta frequentemente em Portugal, e já apareceu muitas vezes na televisão e na rádio. Numa breve entrevista, ela falou carinhosamente das suas viagens anteriores aos EUA. Uma vez que estava por aqui, participou numa desgarrada açoriana que durou até às quatro de manhã. Diz a Manuela, “O meu sono era tanto (resultado da diferença do fuso horário) que me recostei num sofá e meio a dormir, mas nunca perdi a minha deixa.” Esta vez, o convite surgiu de uma maneira interessante. Tocou o telefone dela, e a voz do outro lado perguntou-lhe, “Quer ir aos Estados Unido?” “A que horas é o avião?” respondeu a Manuela. E assim ficou tudo arranjado.

A Manuela mantém uma forte presença no Facebook, e na net em geral, aonde se pode encontrar vários vídeos e dados biográficos, inclusive no site dela, http://fado-meu.blogspot.pt.

Para reservar o seu lugar, ou para pedir mais informações, pode entrar em contacto com qualquer uma das organizadoras, a Margareth de Jesus (973) 332-3776 ou a Lídia Maio (908) 334-6640.

Wednesday, August 22, 2012

Adeus a um amigo

Venho por aqui falar de um grande amigo e fadista, José Maria Fernandes, que faleceu há uma semana. A nossa amizade foi criada juntamente com o fado, ou talvez seja melhor dizer que, quanto mais que conhecíamos, mais que eu compreendi sobre o fado e a bondade que pode ser criado dentro do âmbito fadista. Quando vim com a minha família à Lisboa há alguns anos--sem saber nada do fado actual--foi ele que me introduziu ao mundo fadista que agora faz parte imutável da minha vida.

Na altura quando lá vivimos, frequentávamos a Baiuca em Alfama. Pouco a pouco, fui conversando com os fadistas, os músicos e as outras pessoas que por ali passavam. Gostei de ouvir o José Maria cantar. Ele cantava os clássicos, os fados associados com os fadistas que ele apreciou mas que se encontraram um pouco fora da moda, como o Fernando Farinha e o Tony de Matos. Ele cantava de amor e de solidão. Era romântico, sem pedir desculpas.

Comigo não queria falar das pormenores da sua vida. Um dia perguntei-lhe" "Aonde trabalha?" Respondeu enigmaticamente: "Trabalhava em Alcântara..." Tinha percebido perfeitamente o que eu queria saber, mas não ele recusou de entrar no assunto (sem me ofender). Para muito tempo, eu só sabia que ele era "da outra banda."

Ele vadiava de casa em casa em Alfama, uns dias por semana. Encontrei-o muitas vezes na Baiuca, e anos depois também quando frequentava o Sr. Fado. Como muitos outros fadistas, não queria ganhar dinheiro através do fado: só queria era cantar, a conversar com amigos durante os intervalos ou enquanto ele esperava por sua vez. Fomos uma vez a um território diferente (a Graça) para visitar a Tasca do Jaime. Pôs-se de pé, introduziu-se com humildade, agradeceu a dona, e depois cantou dois fados do coração. Disse-me que gostou, mas percebi que o seu povo, e os seus lugares de hábito, foram todos de Alfama. Por outro lado, ele sempre estava disposto de ir conosco por qualquer lado: às outras casas de fado em Alfama, à Mouraria, etc.

A manter a ordem à porta da Baiuca
Uma vez telefonei-o. Atendeu ao telefone bruscamente, como sempre. Perguntei, "Ó Zé, aonde está?" Estava na casa do Sr. Henrique, no sul do país. "A fazer o que?" A ajudar nisto ou naquilo, para depois regressar à noite para trabalhar no dia seguinte. Outras vezes, estava com as malas prontas para ir à Angola. Sempre a vadiar...

Queria que a minha família fôsse portugueses: eu, a minha esposa, e os meus filhos. Ajudou-me com a burocracia portuguesa, e inventou planos fantásticos para que eu conseguisse manter uma presença permanente em Portugal ("compre um apartamento", "troque o seu trabalho", etc.). Fizemos percursos de pê ou de carro por várias zonas de cidade. Não era jovem, mas andava sempre velozmente, cheio de vontade para lá chegar.

Uma vez que visitámos Lisboa, queria buscá-nos no aeroporto. Disse-me que tinha um carro que servia.  Não o achei possível. "Cabe, cabe. Não se preocupe", respondeu o meu amigo. Chegou com um Citroën antiquíssimo, que não foi nada grande. Mas ele não queria saber nada das minha dúvidas: com uma magia qualquer, conseguiu meter tudo lá dentro--cinco pessoas e todas as malas. Depois da visita, ao regressar ao aeroporto, ofereceu-me uma caixa de discos do fado. Não a queria, mas disse "Leve! Trago uma sempre comigo, e vou dando-a quando me apetecer, depois compro mais uma." Assim, o fado e ele andava sempre a par.

Quando eu estava fora de Portugal, telefonava-o por Skype, e por isso ele não reconhecia o número. Quando atendeu ao telefone, dizia "Alô" duma maneira que transmitiu uma mensagem clara: "Como é que vais explicar esta intrusão?" Eu respondia, "Ó José Maria, é David Mendonça." "Ó David, como está amigo!" E depois era tudo alegria. "É a amizade que conta", dizia ele. (Mesmo na rua, eu nem sempre percebia quando ele sentia pró ou contra alguém, pois resmungava à frente de todos.)
Na Tasca do Jaime

O José Maria vivia com o fado sempre no peito. Quando falávamos, às vezes exprimia os seus sentimentos em termos fadista, sem pretensões e como se fosse a sua própria linguagem. Queria ensinar-me toda a história do fado do que tinha conhecimento, a qual assisti com toda a minha atenção. Introduziu-me ao mundo ocupado por aquelas pessoas que vivem para o fado, e não à conta do fado. O fado do José Maria era um fado puro, que refletia uma sensibilidade profundamente humana, cheia de honestidade, e que não aceitava a falsidade.

A última vez que o vi foi recentemente. Estivemos em Lisboa para uma curta visita. Já tinha percebido que ele não estava bem. Falámos brevemente por telefone, mas foi preciso confirmar os pormenores com a filha dele. Estava sentado à porta da Baiuca, com muitos amigos ao seu redor. (Logo descobri que ele sofreu bastante para lá chegar.)  "Vou cantar" disse ele. A filha protestou, também eu. "Quero." Pediu desculpas da minha esposa por não ser capaz de cantar "Leio em teus olhos", que sempre cantava para ela, e disse que ia cantar outra coisa. Então pôs-se de pé. Num instante, a Baiuca e tudo que não era o meu amigo evaporou. Cantou um "Senhora da Nazaré" do fundo da alma, com toda a força da vida, com muito mais força do que o corpo tinha. Depois saiu subitamente, completamente gasto. Falámos lá fora para uns minutos, mas foi a última vez que o vi. Era tudo pelo fado, e tudo por amizade.

Saturday, March 31, 2012

Conversas com Poetas do Fado: Tiago Torres da Silva

Num ensaio dedicado ao tema "O fado e a alma portuguesa,"[1] o poeta Fernando Pessoa disse que "a canção é uma poesia ajudada." Mas quais são as pessoas que dão esta ajuda? A resposta não é óbvia, pois é muito mais comum ouvir os nomes dos cantores do que os nomes dos poetas (ou até dos músicos) que trabalham para o fado. Com esta série de ensaios, pretendo divulgar algo sobre a história e as actividades contemporâneas de vários poetas ligados ao fado.

Tiago Torres da Silva
O Tiago Torres da Silva, natural de Lisboa e nascido em 1969, é um escritor cujas letras de fado já foram cantadas por muitos fadistas ao longo dos mais de 20 anos da sua carreira.

O autor concorda com as palavras de Pessoa "porque no fado a primazia é da letra--sempre." Continua, "No fado a letra comanda. O cantor tem que entender muito bem as palavras que canta para as transformar em algo que qualquer pessoa consiga entender. É devido a personalidade que a fadista põe nas palavras que canta que o resultado se torna universal."




Durante muitos anos, antes do tempo do CD, a altura em que as letras foram incluidas muitas vezes nas anotações, a poesia do fado era transmitida principalmente de uma forma oral. No início da carreira do Tiago Torres da Silva, o poeta que mais o emocionou foi o Pedro Homem de Melo. Na poesia do Linhares de Barbosa, o que ele aprendeu foi que "o fado deve contar uma história--Quando ouves um poema  do Linhares de Barbosa,  vês tudo"." Para quem quer saber mais sobre estes autores (ou até quer ler mais), a situação actual é mais exigente do que outrora, altura em que a poesia do fado foi transmitida essencialmente de uma forma oral. Agora, as letras dos poemas estão escritas nas notas dos CDs, postas na Internet (ex., no sítio fados do fado), e por vezes traduzidas em várias linguas.

Pedro Homem de Melo
Há vestígios desta tradição oral nas relações entre os poetas de hoje em dia. Das letras que ele escreveu para canções, por exemplo, ele nunca publicou nada. Mas neste momento, com mais de 400 canções gravadas, está a pensar compilá-las. Daqui um ou dois anos, ele talvez lance um livro com pelo menos parte dos seus poemas cantados.

A admiração que sente pelos colegas de hoje em dia não é necessariamente produto de contacto pessoal: até agora, o Tiago nunca se cruzou com a Manuela de Freitas, a poetisa de que ele mais gosta. Diz o Tiago, "Ela escreve fado mas não vai às casas de fado."  Segundo ele, ela é "um prodígio" no que diz respeito a poesia do fado. O Tiago tem mais contacto com os poetas José Luís Gordo e Mário Raínho, entre outros.  Para ele, o fado "pode tirar um pé da rua, mas tem que deixar lá sempre o outro". Durante a nossa conversa, o Tiago elogiou muitos poetas, e até declamou letras de alguns.

O autor escreve todos os dias, porque tem muitas encomendas. "O meu ofício é escrever", diz ele, e "há muitos poetas que têm um ofício e também escrevem. Eu só vivo do que escrevo, mais nada."

Amália Rodrigues
Falando dos seus hábitos de escrever, diz, "Eu sou um pouco caótico quando escrevo. Por exemplo, eu sento-me à secretária a escrever, e de repente estou em cima da secretária, e depois estou em cima do armário, depois estou sentado no chão, e depois... Sou muito, muito caótico. E às vezes tenho que andar para desobstruir as ideias."

O trabalho dele é muito, e os temas são variáveis. Os que mais figuram na poesia dele direcçionada para o fado são o mar, a cidade de Lisboa, e também o fado em si. Gosta muito de escrever para o fado tradicional, "ancorado na tradição."

Fora do fado, ele gosta de escrever sobre a cidade de Rio de Janeiro. Ao perguntar-lhe qual o seu poema preferido, o autor não hestiou em responder com o título, "Vou num rio", que foi escrito mais ou menos há vinte anos, quando Amália Rodrigues ainda era viva, mas que ela não chegou a cantar (a letra desta poema está publicada no blogue do poeta). Esta letra foi vários artistas em músicas diferentes. Por exemplo, a Beatriz da Conceição cantou-a no fado Varela, e a Anamar e a Rita Ribeiro no fado Licas. Diz o Tiago sobre o poema que "Me reflecte muito", e que as letras desta obra eventualmente cristalizaram numa só frase: "Os rios são maiores do que o mar porque correm." O poeta acha-a a melhor frase da sua própria vida, que foi incluída numa peça de teatro que escreveu mais tarde, entitulado "É o Mar Alfonsina, é o Mar". Dos livros listados na Wikipedia, queria destacar o romance "Um S a mais."

Para além da música portuguesa, escreve muito para a música brasileira. Também tem encomendas para o teatro, para livros, e para crónicas nos jornais. Com tanto trabalho, diz ele, "Não fico à espera que a inspiração venha, não. Sento-me, e convoco a inspiração. Às vezes corre pior, às vezes corre melhor." Recentemente ele recebeu uma música brasileira escrita por Luis Felipe Gama, e ouviu-a cinquenta vezes. Depois, diz ele, "escrevi uma das melhores letras da minha vida. Fiquei impressionado comigo." Este modelo de trabalho serve-lhe bem: ele gosta mais de escrever quando a música vem primeiro, embora seja ao contrário por vezes com o fado. Diz que "A música faz-me reagir muito. Com o Carlos Gonçalves, é a letra primeiro e depois a música; com Ivan Lins, é ao contrário. São muito mais os compositores que decidem antes de nós, os poetas."

A Sociedade Portuguesa de Autores, no âmbito da designação dada pela UNESCO ao fado, formou um grupo dedicado à divulgação do fado. O Tiago Torres da Silva faz parte deste grupo que, segundo o poeta, é muito recente mas que já tem um programa de trabalho em curso. Uma das preocupações deste grupo é a dos diretos de autores dentro do fado. Na tradição do fado, uma música (ex., a marcha do Alfredo Marceneiro) pode ser combinada com várias letras (o caso contrário também existe). Mas o sistema de registos só reconhece "canções": quer dizer, a junção de uma música e uma letra. Segundo o escritor,  este sistema cria grandes problemas no que diz respeito aos direitos de autor.

O poeta chama a atenção para algumas perturbações no desenvolvimento recíproco da música e da letra do fado. Um dos problemas é a falta de pessoas aptas que queiram dedicar-se mais ao fado. Por agora, os novos escritores dentro do fado são poucos, e consequentemente os materiais novos são raros. Segundo o poeta, "Sinto que as pessoas são muito apegas ao que o Fernando Maurício fez, ou ao que a Amália fez." Ele acha a situação até "um pouco ridícula. Há jovens a cantar coisas que Amália cantou com 70 anos. Mas uma menina de 21 não tem a vivência para isto." Acrescenta, "O convívio entre os poetas e os fadistas é difícil, situação que não acontecia até ao fado estar tão na moda."  Continua, "É mais fácil para mim mostrar uma canção a um grande cantor do Brasil do que mostá-la no meu pais mostrar a um fadista da nova vaga, salvo algumas excepções."

Segundo o Tiago Torres da Silva, neste momento dentro do fado "há muito sucesso, mas não há tanto coração como sucesso. E o fado sem coração a mim não me interessa." Mas em termos de arte de cantar e de dizer, ele opina que "há gente espantosa," entre os quais estão a Carminho, o Ricardo Ribeiro, e o Camané. Acrescenta, "Mas não sinto que haja algo de novo a aparecer. Sinto que em termos da proposta fadista, a última revolução foi aquela que o Alain Oulman e a Amália protagonizaram nos finais dos anos sessenta, início dos anos setenta." O autor não disse isto para se queixar--pois há muitos fadistas que tem cantado e que continuam a cantar os seus poemas--"disse-o apenas para iluminar uma situação que previra um corte potencial na tradição do fado."

O poeta põe um ponto final neste assunto da seguinte forma: "O fado quando não é cantado com o que nós vivemos, ou quando não é escrito com o que nós vivemos, ou quando não é composto com o que nos vivemos, fica sempre menos fado. Pode ficar uma muito boa música mas, atenção, fica menos fado."

Para quem quer saber mais:
Tiago Torres da Silva em entrevista na RDP Internacional
Tiago Torres da Silva a declamar no Palácio de Belém
Blogue do autor
Entrada no Wikipedia

Nota:
[1] Sobre Portugal - Introdução ao Problema Nacional. Fernando Pessoa (Recolha de textos de Maria Isabel Rocheta e Maria Paula Morão. Introdução organizada por Joel Serrão.) Lisboa: Ática, 1979.  - 98. 1ª publ. in Notícias Ilustrado , 2ª série, nº 44, Lisboa, 14-4-1929.

Monday, February 6, 2012

Ana Moura nos USA: Primeira Paragem

Zeiterion Theatre
Achava interessante ouvir algumas opiniões de várias gerações de luso-descendentes (e familiares) que assistiram o primeiro concerto desta volta da Ana Moura aos EUA, que teve lugar na cidade de New Bedford no estado de Massachusetts, mas precisamente no Zeiterion Theatre, no dia 4 de Fevereiro de 2012.

Fiz parte deste grupo, que foi constituído por amigos e membros da família, 16 pessoas em total, de várias idades: de 12 anos e menos (5 pessoas), entre 35 e 45 anos (8 pessoas), 70 emais (3 pessoas). Foi então um grupo diverso.
Sr. Carlos com os mais jovens (e não só)
Viajámos entre três e seis horas para assistir este evento.

Começámos a noite com um bom jantar português no restaurante Cotali Mar, em New Bedford. O restaurante funciona sob a direcção do Sr. Carlos, que mantém uma tasca aonde oferece fado. Então, é mais uma hipótese para o futuro... 

Deixo então os comentários, colocados por email durante os dois dias que seguiram o concerto. Foram traduzidos de inglês por português, e foram oferecidos por pessoas que, na maior parte, tiveram com este evento a sua primeira experiência do fado ao vivo.

Esperando que o fado aconteça

"Achava Ana Moura uma grande cantadeira. Impressionante. Mesmo vale a pena vê-la. Foi como nada que tinha visto antes." Menina, 12 anos

"Impressionante. Uma voz poderosa mas ao mesmo tempo delicada. Muitas vezes arrepiou a minha coluna." Homem, 39 anos.

"Um sabor delicioso de Portugal. Foi giro como ele ligou-se com os ouvintes. Tem uma voz tão linda que ela é em corpo. Muito bom." Mulher, 43 anos.

A maior parte do grupo
"Admirei o contralto rico da voz dela, que era capaz de exprimir tanta emoção com tanta falta de movimento no corpo--estava tudo concentrado na sua voz. Várias vezes fechei os meus olhos, e era tudo ainda mais poderoso." Mulher, 70 anos

"Que concerto! A Ana era muito generosa: partilhou tanto não só connosco, mas também com os seus próprios músicos. Deixou os ouvintes a seguir-la na sua jornada musical. Do princípio até ao fim, foi um espectáculo." Mulher, 45 anos.

"O tocador da guitarra portuguesa [Ângelo Freire] foi excelente, grande." Menino, 10 anos

"Deslocou o concerto da Joan Baez que assisti-- quando ela estava na sua auge--como o melhor que vi na minha vida." Homem, 71 anos

Fim da Noite
"Sentia-me parte de alguma coisa especial. Foi a minha primeira experiência do fado ao vivo, e notei principalmente a ligação entre os artistas, particularmente a Ana, e o público." Homem, 39 anos

"Foi tudo muito bonito." Menina, 7 anos

Logo, no prazo de um ou dois dias, vai aparecer no outro blog, Fado-today, um resumo do concerto mesmo.

Cumprimentos a todo o grupo, e um sincero obrigado de todos nós!









Tuesday, January 31, 2012

O fado de Lisboa chega aos EUA: Entrevista com o Michael da Silva


Michael da Silva

Trazer o fado de Portugal para os EUA nunca foi fácil. O que ajuda quem quer trazê-lo não é só o conhecimento da música, mas também de tudo que rodeia o fado.

O empressário e músico Michael da Silva--Luso-descendente e tocador da viola do fado--começou recentemente a organizar espectáculos de fado nos EUA, atraindo artistas talentosos da nova geração, como a Fábia Rebordão e a Filipa Cardoso, e também das gerações anteriores, como o Jorge Fernando e a Celeste Rodrigues.

O percurso fadista do Michael iniciou-se em 1996 quando, com nove anos de idade, ouviu pela primeira vez a voz da Amália Rodrigues. Com 14 anos de idade, inscreveu-se como aluno do Sr. Alberto Resende, músico de bao reputação na comunidade lusa nos EUA, e também construtor de guitarras portuguesas, que residia na área de Newark, NJ.

Com 17 anos, o Michael encontrou outra figura marcante na sua vida, o músico, compositor, letrista e fadista, Jorge Fernando, que também tinha começado a sua carreira quando jovem. O Jorge Ferando, antes de ter completado 20 anos, já tinha sido escolhido pelos fadistas Amália Rodrigues e pelo Fernando Maurício. Aos 16 anos, o Jorge Fernando escreveu "Boa Noite Solidão", que viria a ser um êxito do Fernando Maurício, e que continua a fazer parte do repertório de muitos fadistas. Com 23 anos, juntou-se ao grupo de músicos que tocava para a Amália Rodrigues (entre eles o guitarrista Carlos Gonçalves), e com eles deu uma volta ao mundo a tocar para ela.

Foi nesta altura que o Michael pediu ao Jorge Fernando que o deixasse aprender o fado "aos pés dele". Assim, três anos depois deste encontro, o Michael da Silva chegou a tocar fado pela primeira vez em Portugal, ao lado do Jorge Fernando e de outros músicos que faziam parte do elenco da casa de fados "Casa de Linhares/Bacalhau de Molho" em Alfama. O Michael diz que os fados que ocupam um lugar central no repertório dele são os tradicionais, destacando a "Marcha do Marceneiro", o Fado Corrido (que ele gosta de tocar a um ritmo acelerado), e o Fado Menor.

O Michael é apaixonado pela música do fado e pela viola, um sentimento que ele transmite enquanto toca (e quando canta, o que raramente acontece), mas também quando ele dá lições como instructor de música, especificamente de guitarra clássica. Os alunos dele, aproximadamente 25 no total, vêm de famílias luso-americanas e não só. Mas todos participam na música portuguesa, quer no fado, quer em outros estilos. O Michael continua a tentar aumentar o seu repertório musical em termos de fado. Já está pronto para tocar cerca de 200 músicas diferentes, inclusivé fados tradicionais e musicados. Ele diz que quer sentir-se "suficientemente confiante na minha arte que, quando tenho saudades do fado, posso ir a Portugal tocá-lo." Acrescenta "quero ser capaz de tocar uma música que não conheço, se souber o suficientemente sobre o fado, poderei tocar os acordes que a acompanham." O seu próximo alvo concreto é terminar os estudos de licenciatura em música, e manter uma carreira como instructor musical.

O Michael decidiu começar a organizar espectáculos de fado nos EUA enquanto estava no meio duma estadia de um mês em Lisboa. Na altura (como hoje), tocava ao lado do Jorge Fernando na Casa de Linhares, "completamente envolvido no dia-a-dia do fado". Uma noite foi com a noiva visitar um café que oferecia fado, e ficou impressionado com toda a experiência. Diz ele: "Foi mágico. Eu sentia a falta de uma experiência como esta nos Estados Unidos. É algo que só podia acontecer em Portugal. Há um certo factor X que não se encontra nos Estados Unidos, por mais que nós tentemos que aconteça." Apesasr de tudo, decidiu que queria tentar trazer aquela magia para o outro lado do oceano. Isto implicou a música e as letras, o vinho e a comida, e muito mais. Como diz o Michael, "A forma mais bela, mais pura, do fado é só para um grupo de pessoas que tiverem a sorte de estar lá no momento certo. O ambiente terá de ser o certo, bem como a luz da sala, para as pessoas terem o mesmo sentimento do fado".

Em 2011, o Michael lançou um novo projecto, o "MD Fado Productions", para que o fado aconteça nos EUA. Como estreia, organizou em Newark uma noite de fado--que se chamava "Fado Nosso"--que contou com a participação das fadistas Fábia Rebordão e Filipa Cardoso, e dos músicos José Manuel Neto e Jorge Fernando. Antes de tudo isto, o Jorge Fernando tinha dito ao Michael que previa que ele viesse a organizar espectáculos, e que ele o apoiaria com toda a força possível. O sucesso deste "Fado Nosso" concretizou o compromisso entre os dois, tendo sido visto por mais de 250 pessoas na Casa Seabra. Foi nesta noite que o Jorge Fernando disse ao Michael, "Às vezes apetece-me correr riscos com objectivo de apoiar as pessoas. Fiz isto com a Mariza e com a Ana Moura, e agora vou fazer o mesmo consigo como manager."

Os artistos escolhidos para estes evento são uma mistura dos mais conceituados e dos mais recentes, dando sempre um 'novo sabor' ao fado. A sua participação nas casas de fado dentro de Lisboa abre um caminho a estes e a outros artistas. Também o Michael tem a sua experiência como apreciador do fado, tem vivido momentos muito bonitos, que "não foram planeados nem predefinidos em qualquer agenda ou calendário". A totalidade desta experiência--como músico, apreciador e, segundo o Michael, como luso-descendente--ajuda-o a organizar o espectáculo de forma a que o fado aconteça.

Falando de organização de eventos, o Michael faz notar que esta organização é sempre um complexo de emoções e de actividades, acontecendo todas ao mesmo tempo: ao imprimir os posters, ao vender os bilhetes, ao tratar da logística, ao gerir o espectáculo, para não falar de quando se participa como artista. O evento de Novembro foi um sucesso ao aproximar Lisboa de Newark, e vice versa. Como disse o Jorge Fernando durante o espectáculo, a noite forneceu uma oportunidade para estes dois povos portugueses--apesar de estarem separados pelo Atlântico--a ver-se e entender-se melhor.

Em Janeiro de 2012, lançou "Fado: De Lisboa a Nova Iorque", um evento que trouxe alguns dos melhores artistas de fado--Celeste Rodrigues, Filipa Cardoso, Fábia Rebordão, Jorge Fernando, José Manuel Neto, e Gustavo Roriz--a um palco de fama mundial em New York City, o da Carnegie Hall. (resumo em inglês aqui).

Entretanto, as actividades da empresa "MD Fado" continuam em expansão, tendo incluído um publicitário, um advogado, um designer, e uma equipa de rua a trabalhar na área da divulgação. Com o empenhamento, experiência e ambição do Michael, o futuro do fado nos EUA continua a ser brilhante e promissor.

Para mais informações sobre estes e outros espectáculos, pode consultar o website das "MD Fado Productions".

Saturday, October 1, 2011

Luisa Rocha nos EUA

Luisa Rocha
Já são disponíveis várias informações sobre a digressão (já em progresso) da fadista Luisa Rocha aos EUA, mas aqui quero apresentar umas palavras fornecidas pela fadista sobre a produção em que participa, que se chama "Fado Moves". Como foi escrito recentemente no blogue Fado-today e no journal cultural HardMúsica, este projecto pretende juntar duas formas de arte--o fado e a dança--para contar as histórias do  novo disco da Luisa Rocha, "Uma noite de amor".

Perguntei à Luisa Rocha: Como é que o conjunto seu preparou para este espectáculo? Depois deste visita, vai continuar com o projecto dentro de Portugal? E, afinal e para manter a continuidade, como é que o Michael ficou envolvido no projecto?


A Luisa Rocha respondeu assim:

"Este projecto exige de toda a equipe uma grande concentração. Muitas são as diferenças que se podem encontrar em cada um de nós: culturas, idioma, estilos musicais e até mesmo a formação dos bailarinos é bastante ecletica, do ballet ao Bboy, passando pelo Hip-Hop e Modern. Em comum temos a paixão pelas artes--uma afinidade necessária para realizar um bom trabalho."

"A preparação começou antes do primeiro encontro. Quando cheguei à América fiquei surpresa: todos os bailarinos haviam escutado e estudado muito sobre fado. E tal como eu, todos sabiam que este projecto nos trás muita responsabilidade. Tem que ser tratado com o máximo de seriedade pois é o género musical que representa grande parte da cultura Portuguesa, e candidato ainda este ano a património da humanidade."

"No primeiro encontro fiz questão de cantar para que todos sentissem a magia do fado tal como se faz nas típicas casas de Fado. Depois deste 1º contacto, foi feita uma escolha de reportório baseado no meu disco "Uma Noite De Amor". Ainda mesmo antes de lhes ser traduzido os respectivos poemas, foi curioso perceber que cada gesto dos bailarinos descrevia o que cada fado contava. Depois de lhes ser entregue a tradução, foi bastante interessante perceber que se lhes tivesse sido entregue antes, era exactamente o que tinham escolhido, por se identificarem com a historia que vão contar."

"A música ultrapassa a barreira das diferenças e neste momento já não é a Fadista e os bailarinos mas sim um grupo de amigos sensibilizados e motivados para fazer mover o Fado "Fado Moves".

"O Luso-Americano Michael Da Silva é o mentor do projecto. Penso que é seu objectivo levar o 'Fado Moves' pelo mundo. Confesso que me deixa muito feliz a ideia de ser Portugal o próximo destino."

Ofereço um sincero obrigado à Luisa Rocha por ter ampliado o nosso conhecimento deste projecto, que parece muito interessante e que está a gerir bastante interessa e curiosidade na zona da cidade da Nova Iorque.