Tuesday, January 31, 2012

O fado de Lisboa chega aos EUA: Entrevista com o Michael da Silva


Michael da Silva

Trazer o fado de Portugal para os EUA nunca foi fácil. O que ajuda quem quer trazê-lo não é só o conhecimento da música, mas também de tudo que rodeia o fado.

O empressário e músico Michael da Silva--Luso-descendente e tocador da viola do fado--começou recentemente a organizar espectáculos de fado nos EUA, atraindo artistas talentosos da nova geração, como a Fábia Rebordão e a Filipa Cardoso, e também das gerações anteriores, como o Jorge Fernando e a Celeste Rodrigues.

O percurso fadista do Michael iniciou-se em 1996 quando, com nove anos de idade, ouviu pela primeira vez a voz da Amália Rodrigues. Com 14 anos de idade, inscreveu-se como aluno do Sr. Alberto Resende, músico de bao reputação na comunidade lusa nos EUA, e também construtor de guitarras portuguesas, que residia na área de Newark, NJ.

Com 17 anos, o Michael encontrou outra figura marcante na sua vida, o músico, compositor, letrista e fadista, Jorge Fernando, que também tinha começado a sua carreira quando jovem. O Jorge Ferando, antes de ter completado 20 anos, já tinha sido escolhido pelos fadistas Amália Rodrigues e pelo Fernando Maurício. Aos 16 anos, o Jorge Fernando escreveu "Boa Noite Solidão", que viria a ser um êxito do Fernando Maurício, e que continua a fazer parte do repertório de muitos fadistas. Com 23 anos, juntou-se ao grupo de músicos que tocava para a Amália Rodrigues (entre eles o guitarrista Carlos Gonçalves), e com eles deu uma volta ao mundo a tocar para ela.

Foi nesta altura que o Michael pediu ao Jorge Fernando que o deixasse aprender o fado "aos pés dele". Assim, três anos depois deste encontro, o Michael da Silva chegou a tocar fado pela primeira vez em Portugal, ao lado do Jorge Fernando e de outros músicos que faziam parte do elenco da casa de fados "Casa de Linhares/Bacalhau de Molho" em Alfama. O Michael diz que os fados que ocupam um lugar central no repertório dele são os tradicionais, destacando a "Marcha do Marceneiro", o Fado Corrido (que ele gosta de tocar a um ritmo acelerado), e o Fado Menor.

O Michael é apaixonado pela música do fado e pela viola, um sentimento que ele transmite enquanto toca (e quando canta, o que raramente acontece), mas também quando ele dá lições como instructor de música, especificamente de guitarra clássica. Os alunos dele, aproximadamente 25 no total, vêm de famílias luso-americanas e não só. Mas todos participam na música portuguesa, quer no fado, quer em outros estilos. O Michael continua a tentar aumentar o seu repertório musical em termos de fado. Já está pronto para tocar cerca de 200 músicas diferentes, inclusivé fados tradicionais e musicados. Ele diz que quer sentir-se "suficientemente confiante na minha arte que, quando tenho saudades do fado, posso ir a Portugal tocá-lo." Acrescenta "quero ser capaz de tocar uma música que não conheço, se souber o suficientemente sobre o fado, poderei tocar os acordes que a acompanham." O seu próximo alvo concreto é terminar os estudos de licenciatura em música, e manter uma carreira como instructor musical.

O Michael decidiu começar a organizar espectáculos de fado nos EUA enquanto estava no meio duma estadia de um mês em Lisboa. Na altura (como hoje), tocava ao lado do Jorge Fernando na Casa de Linhares, "completamente envolvido no dia-a-dia do fado". Uma noite foi com a noiva visitar um café que oferecia fado, e ficou impressionado com toda a experiência. Diz ele: "Foi mágico. Eu sentia a falta de uma experiência como esta nos Estados Unidos. É algo que só podia acontecer em Portugal. Há um certo factor X que não se encontra nos Estados Unidos, por mais que nós tentemos que aconteça." Apesasr de tudo, decidiu que queria tentar trazer aquela magia para o outro lado do oceano. Isto implicou a música e as letras, o vinho e a comida, e muito mais. Como diz o Michael, "A forma mais bela, mais pura, do fado é só para um grupo de pessoas que tiverem a sorte de estar lá no momento certo. O ambiente terá de ser o certo, bem como a luz da sala, para as pessoas terem o mesmo sentimento do fado".

Em 2011, o Michael lançou um novo projecto, o "MD Fado Productions", para que o fado aconteça nos EUA. Como estreia, organizou em Newark uma noite de fado--que se chamava "Fado Nosso"--que contou com a participação das fadistas Fábia Rebordão e Filipa Cardoso, e dos músicos José Manuel Neto e Jorge Fernando. Antes de tudo isto, o Jorge Fernando tinha dito ao Michael que previa que ele viesse a organizar espectáculos, e que ele o apoiaria com toda a força possível. O sucesso deste "Fado Nosso" concretizou o compromisso entre os dois, tendo sido visto por mais de 250 pessoas na Casa Seabra. Foi nesta noite que o Jorge Fernando disse ao Michael, "Às vezes apetece-me correr riscos com objectivo de apoiar as pessoas. Fiz isto com a Mariza e com a Ana Moura, e agora vou fazer o mesmo consigo como manager."

Os artistos escolhidos para estes evento são uma mistura dos mais conceituados e dos mais recentes, dando sempre um 'novo sabor' ao fado. A sua participação nas casas de fado dentro de Lisboa abre um caminho a estes e a outros artistas. Também o Michael tem a sua experiência como apreciador do fado, tem vivido momentos muito bonitos, que "não foram planeados nem predefinidos em qualquer agenda ou calendário". A totalidade desta experiência--como músico, apreciador e, segundo o Michael, como luso-descendente--ajuda-o a organizar o espectáculo de forma a que o fado aconteça.

Falando de organização de eventos, o Michael faz notar que esta organização é sempre um complexo de emoções e de actividades, acontecendo todas ao mesmo tempo: ao imprimir os posters, ao vender os bilhetes, ao tratar da logística, ao gerir o espectáculo, para não falar de quando se participa como artista. O evento de Novembro foi um sucesso ao aproximar Lisboa de Newark, e vice versa. Como disse o Jorge Fernando durante o espectáculo, a noite forneceu uma oportunidade para estes dois povos portugueses--apesar de estarem separados pelo Atlântico--a ver-se e entender-se melhor.

Em Janeiro de 2012, lançou "Fado: De Lisboa a Nova Iorque", um evento que trouxe alguns dos melhores artistas de fado--Celeste Rodrigues, Filipa Cardoso, Fábia Rebordão, Jorge Fernando, José Manuel Neto, e Gustavo Roriz--a um palco de fama mundial em New York City, o da Carnegie Hall. (resumo em inglês aqui).

Entretanto, as actividades da empresa "MD Fado" continuam em expansão, tendo incluído um publicitário, um advogado, um designer, e uma equipa de rua a trabalhar na área da divulgação. Com o empenhamento, experiência e ambição do Michael, o futuro do fado nos EUA continua a ser brilhante e promissor.

Para mais informações sobre estes e outros espectáculos, pode consultar o website das "MD Fado Productions".